Quando criança me admirava de minha mãezinha!

Como podia, pensava eu,

Tão pobre ser e alegre viver?

Já bem cedo eu escutava

Que com o sabiá falava e o rádio ligava,

A todos com um sorriso tratava.

Nunca vi alguém que à casa chegasse

E ao menos um pequeno agrado

Em suas mãos não levasse.

E eu assim pensava,

Eram eles que deveriam trazer algo para nos oferecer,

Pois éramos pobres, nem sapatos eu podia ter.

Por que tantos aqui vêm em procura de algo

E não trazem nem um vintém?

E ela alegre vivia,

Sempre a dedicar-se à alguém.

Agora é que compreendo o porquê de sua felicidade e alegria,

Porque ela era rica, mas rica de verdade.

Daquela riqueza que só traz felicidade,

Pois ela é a caridade.

31 de outubro de 1983.